quarta-feira, março 19, 2008

Normandia corinthiana

"Trinta anos não são trinta dias" costumava dizer a vizinha gorda e patusca de Nelson Rodrigues, apaixonada pelas obviedades da vida. De fato, trinta anos é muito tempo. Poucos eventos são perfeitamente recordados trinta anos depois, ainda mais quando esses eventos são corriqueiros como um jogo de futebol. Mas aquele jogo não foi um jogo qualquer. O jogo em si, aliás, nem foi assim tão extraordinário. O extraordinário mesmo, naquele longínquo 5 de dezembro de 1976, foi o estarrecimento. O estarrecimento que eu, aos 11 anos de idade, senti ao entrar no estádio e ter a sensação de que errara de cidade, talvez de planeta. O estarrecimento de ir ao Maracanã torcer pelo Fluminense e me deparar com nada menos do que 75 mil furiosos torcedores corintianos, gritando a plenos pulmões o nome do clube tão amado.

É claro que me refiro ao Fluminense x Corinthians das semifinais do Campeonato Brasileiro de 1976, confronto que entrou para a história como o da "Invasão Corintiana". Naquela tarde decisiva, como de costume, fui ao estádio com meu pai, minha mãe, meu irmão e minha avó, a famosa Dona Eulália, não tão gorda, mas certamente mais patusca do que a vizinha do Nelson Rodrigues. A velhinha torcia pelo América, enquanto a minha mãe é botafoguense. Só que, quando o time dos varões da casa entrava em campo, elas solidariamente viravam suas casacas para torcer pela Máquina do presidente Horta. Íamos de camarote, não por pose, mas porque aquelas apertadas caixinhas de cimento, no pior lugar do estádio, atrás da última fila de cadeiras azuis, acomodavam exatamente as cinco pessoas da minha família.

Pois foi assim, em família, que eu acompanhei a queima de fogos da fiel torcida quando seu time - infinitamente mais modesto que a nossa Máquina - entrou em campo. O foguetório durou um minuto e quarenta e três segundos. Para mim, foi como se o trecho final da Abertura 1812, de Tchaikovsky, martelasse na minha cabeça até a consumação dos tempos. Para quem nasceu no subúrbio e jamais havia visto a queima de fogos do Réveillon de Copacabana, aquilo era o Dia D, a invasão da Normandia. A invasão já estava consolidada desde a véspera, quando nossas praias foram tomadas por centenas de ônibus. Faltava a artilharia, que veio na forma e, sobretudo, no estampido dos rojões. Naquele instante, tive a certeza de que o meu time, mesmo com Rivelino, Doval, Carlos Alberto Torres, Edinho, Dirceu, Pintinho e Rodrigues Neto, teria que suar a camisa para vencer o Corinthians.

O jogo acabou empatado, com um gol de Pintinho para o Flu e um de Ruço, numa tão bela quanto improvável meia-bicicleta, para o Timão. Nos pênaltis, Carlos Alberto Torres e Rodrigues Neto perderam os seus, enquanto todos os batedores visitantes converteram: Neca, Ruço, Moisés e Zé Maria. Hoje, aquele time alvinegro, que tinha ainda o goleiro Tobias, Givanildo, Wladimir, Vaguinho, Romeu, Geraldo e Zé Eduardo, poderia ganhar de qualquer um. Mas naquela época o Fluminense tinha o melhor elenco do mundo, uma autêntica seleção - o que só serviu para tornar ainda mais épica a conquista dos "visitantes" (assim mesmo, entre aspas), que levavam 22 anos sem conquistar um título de expressão.

A movimentação de massas produzida pelo Corinthians me obrigou a rever uma frase de Nelson Rodrigues, que, como eu, testemunhou a invasão. Não é o Flamengo que é uma força da natureza, capaz de chover, trovejar e relampejar. Não, Nelson, naquela estarrecedora tarde de trinta anos atrás, a verdadeira força da natureza foi o Sport Club Corinthians Paulista.

Texto de Marcos Caetano, do site NoMínimo.

sábado, março 01, 2008

Operação de Israel mata 45 em Gaza e deixa centenas de feridos

Palestinos afirmam que negociações de paz com Israel estão "enterradas"
da France Presse, em Ramallah
da Efe, em Gaza

Saeb Erekat, um dos principais negociadores palestinos no processo de paz com Israel, afirmou neste sábado que as negociações com Tel Aviv "estão enterradas sob os escombros das casas destruídas em Gaza", em referência à mais recente operação militar israelense, que já deixou ao menos 71 mortos --45 deles apenas neste sábado-- e 260 feridos desde quarta-feira (27).

A operação de Israel no norte da faixa de Gaza é uma retaliação aos disparos de foguetes pelo grupo extremista palestino Hamas.

Entre os mortos palestinos, ao menos 13 são civis, sendo quatro crianças e sete mulheres. Jacqueline Abu Chbak, de 12 anos, e seu irmão, Iyad, 11 anos, morreram enquanto dormiam, vítimas da queda de um foguete na casa deles, de acordo com moradores. Uma mulher foi atingida no peito enquanto preparava o café-da-manhã para seus filhos.

Este sábado foi um dos dias mais violentos desde que o Hamas tomou o controle, em junho de 2007, da faixa de Gaza. As últimas mortes elevam para 6.245 o número de mortos nos confrontos entre Israel e Palestina desde 2000, a maioria deles palestinos, de acordo com um relatório elaborado pela France Presse.

O vice-Ministro da Defesa de Israel, Matan Vilnai, negou que o objetivo da operação seja uma reocupação parcial da faixa de Gaza, abandonada em 2005. "Usaremos principalmente a aviação, embora possamos recorrer às forças terrestres."