domingo, dezembro 31, 2006

Saddam Hussein é executado na forca


Ele foi condenado à morte em 5 de novembro por um tribunal iraquiano pelo massacre de 148 xiitas, em 1982, o que foi considerado crime contra a humanidade.

SÃO PAULO - O ex-ditador do Iraque Saddam Hussein foi enforcado por volta das 6 horas deste sábado em Bagdá (1 hora pelo horário de Brasília), anunciou a TV iraquiana Al-Hurra, emissora criada e financiada pelos EUA. A execução foi confirmada minutos depois pelo vice-chanceler iraquiano Labeed Abbawi e por um alto funcionário americano citado pelo site do New York Times.

A hora da execução foi combinada entre autoridades iraquianas e americanas. Por volta das 5h30 locais, um clérigo muçulmano chegou ao local para ouvir as últimas palavras do ex-ditador, deposto em abril de 2003 por uma invasão internacional liderada pelos EUA. A execução ocorreu no edifício que abrigou a sede do Serviço de Inteligência durante seu regime, no bairro de al-Kazimiya, no centro de Bagdá. Exilada na Jordânia, Raghd, filha de Saddam, pediu que o corpo do ex-presidente seja enterrado provisoriamente no Iêmen, “até que o Iraque seja libertado e ele possa ser sepultado em seu país”.

O ex-ditador foi condenado à morte em 5 de novembro por um tribunal iraquiano pelo massacre de 148 xiitas na aldeia de Dujail, em 1982, o que foi considerado crime contra a humanidade.

sábado, dezembro 23, 2006

Invasão do Maracanã por Nelson Rodrigues


"Uma coisa é certa: não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações.

Até que, lá um dia, acontece a grande vitória.

Ainda digo mais: já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate.

Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.

Ninguém sabia, ninguém desconfiava.

O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade.

Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema.

E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela.

Ali, chegavam os corintianos, aos borbotões.

Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.

A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia.

Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: "O Rio é uma cidade ocupada".

Os corintianos passavam a toda hora e em toda parte.

Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo.

Pois ganha.

Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time.

Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel.

Um amigo me perguntou: "E se o Corinthians perder?"

O Fluminense era mais time.


Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corintianos, quando faziam um prévio carnaval.

Esse carnaval não parou.

De manhã, acordei num clima paulista.

Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam.

Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca.

Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.

Não cabe aqui falar em técnico.

O que influi e decidiu o jogo foi a torcida.


A torcida empurrou o time para o empate.

A torcida não parou de incitar.

Vocês percebem?

Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca".

NELSON RODRIGUES publicou este texto no GLOBO em 6/12/76, dia seguinte ao Fluminense x Corinthians.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Sócrates e um jogo especial


O jogo do Doutor Sócrates

"Márcio me marcou muito bem.Mas, no único cochilo dele, escapei e fiz o gol da vitória. Um lance decidiu tudo".

Na luta por uma vaga na final do campeonato paulista de 1983, Sócrates recebia uma marcação implacável do volante Márcio. Aqui, ele conta como, em um lance de genialidade, acabou decidindo tudo a favor do Timão.

“Sempre achei que os jogos decisivos eram mais tranqüilos que os outros, porque, nessas ocasiões, você só tem uma chance: é vencer ou vencer. Principalmente no Corinthians, time que eu defendi naqueles dois jogos semifinais do campeonato paulista de 1983, contra o Palmeiras. Quando se veste aquela camisa em uma final, você já entra com 70% de chances de vitória, por causa da torcida. No Corinthians, mais que em qualquer outro lugar, ela ganha jogo.Como todo artista, o jogador de futebol também trabalha com o público, que é capaz de determinar sua perfomance. Some-se a isso a imprevisibilidade do futebol, em que um único lance pode decidir a sorte de uma partida. Foi mais ou menos isso que ocorreu naquele Corinthians x Palmeiras. Apesar da importância, eu achava aquele jogo um compromisso muito mais calmo que enfrentar o Marília, em Marília, por exemplo, onde você leva cotovelada na cabeça, no peito, enfim, acontece de tudo. Além disso, tínhamos a Fiel do nosso lado, e para mim, o grande barato do futebol sempre foi esse: conseguir canalizar a atenção do meu público. Por tudo isso, não havia o que temer. Havia, sim, Casagrande, uma força em estado bruto no auge de sua explosão. Havia Zenon, Wladimir, eu...Tínhamos um grande time, que buscava o bi campeonato, enquanto o Palmeiras começava a se preocupar com o seu sétimo ano na fila. E isso já era um grande peso para seus jogadores”.

Apesar da rivalidade entre corinthianos e palmeirenses, Sócrates preferia ganhar do Santos ou do São Paulo.
“Reconheço que, até hoje, o corinthiano mesmo, aceita tudo, menos uma derrota para o Palmeiras. Participar de uma partida dessas, portanto, é excitante, e marcar o gol que garante a classificação, é um orgasmo todo especial. Na primeira partida, um domingo, houve um empate de 1x1. O gol do Corinthians foi meu, de pênalti, em uma bola que bateu no travessão antes de entrar. No segundo jogo, eu acabaria definindo tudo em alguns segundos. E o Minelli, perdendo de 1x0, foi obrigado a substituir o Marcio que havia entrado para fazer uma marcação homem a homem em cima de mim. Era uma marcação no melhor estilo, de um para um, que não me dava sossego até ali. Marcio me marcou muito bem. Mas, no único cochilo dele, virei o corpo, escapei do cerco e fiz o gol da vitória. Aí, durante o resto do tempo, só para segurar o jogo, eu ainda sacaneei um pouquinho. Dava piques no meio do campo, enquanto a bola estava parada do outro lado, para a cobrança de um arremesso lateral ou cobrança de um tiro de meta, e ele vinha atrás de mim. Foi uma maneira de minar mais o moral do adversário do que uma vingança pessoal, como poderia parecer. Depois, na decisão contra o São Paulo, tive menos problemas que ao eliminar aquele Palmeiras de 1983 nas semifinais. Um duelo inesquecível , em que, por isso mesmo, valia tudo. Até desequilibrar o jogo em um único lance, como eu fiz naquela noite”.

Dia 8 de dezembro de 1983 – Palmeiras 1 x Corinthians 0
Gol de Sócrates.
Local: Morumbi.
Juiz: José Assis Aragão.
Publico: 95.784 torcedores.
Corinthians: Leão. Ronaldo (Alfinete). Juninho. Mauro e Wlademir. Zenon. Biro Biro e Sócrates. Paulinho. Casa Grande e Eduardo (Vagner).
Técnico: Jorge Vieira.
Palmeiras: João Marcos. Perivaldo. Luis Pereira. Vagner e Carlão. Marcio (Enéas) e Carlos Alberto Borges. Jorginho. Baltazar e Capitão (Carlos Henrique).